Anos 00 – 09

#38 Nove Rainhas

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Quando fui convidado pelo meu amigo Adriano de Oliveira (Cine Revista) para compor uma lista com as melhores obras cinematográficas da década de 2000, não tive dúvida alguma em incluir nessa lista o longa argentino Nove Rainhas. Nem o final (para muitos grandioso) desnecessário tira o brilho deste grande filme realizado por nossos hermanos.

A maior qualidade do primeiro longa-metragem de Fabián Bielinsky, é o roteiro muito bem construído, com diálogos dinâmicos e nem um pouco vagos. Aliás, nada que o filme mostre está ali por acaso. Junte ao precioso argumento, um trabalho de atuação sensacional de Ricardo Darín e Gastón Pauls (Alô, Oscar?), e cenas com uma filmagem surpreendentemente segura e bem executada, e temos um dos grandes filmes argentinos desse novo século e de todos os tempos. O estilo de filmagem me lembra grandes filmes Sul-Americanos e Europeus como Whisky (2003) e Irreversível (2002), coincidentemente, filmes do começo da década passada.

Me recordo claramente do filme ser encontrado apenas em VHS até alguns anos atrás, o que aumentou e muito o boca-a-boca dele aqui no Brasil, tornando-o um filme cultuado para os ratos de locadora.

Nove Rainhas tem como ponto de ebulição a vontade de Fabián Bielinsky em realizar um grande filme, e nesse quesito, ele é impecável.

Para variar, o filme ganhou um remake americano em 2004, com produção de Soderbergh e de um bom elenco. Mas como todo bom apreciador de um bom cinema, tenho as minhas convicções, e uma delas é a de que remakes são desnecessários.

Por acaso alguém sabe o nome daquela música da Rita Pavone?

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Nove Rainhas (Nueve Reinas). ARG 2000. 114 min. Direção e Roteiro de Fabián Bielinsky. Com Ricardo Darín, Gastón Pauls, Leticia Brédice.

NC: 8     NP: 8     IMDB: Nove Rainhas

Por: Ricardo Lubisco

#33 V de Vingança

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V de Vingança é um filme de 2005 com o roteiro assinado pelos irmãos Wachowski (Matrix), baseado na graphic novel escrita por Alan Moore e desenhada por David Lloyd nos anos 80. É uma obra cheia de referências, e apesar de ser um ótimo filme, só é assim por causa da grandiosa história de Alan Moore, um gênio de nossos tempos criador de histórias como Watchmen e Constantine.

A história de V de Vingança é excelente pois mostra de uma maneira diferente, a manipulação que realmente acontece em muitos países, inclusive no Brasil. Ou seja, Alan Moore não é apenas uma pessoa que criou esta história, mas sim uma mente que pensou em detalhes sórdidos de um futuro fictício, que infelizmente são muito mais do que apenas uma graphic novel. Moore inclusive pediu para o seu nome ser retirado dos créditos do filme após as péssimas adaptações de Do Inferno e A Liga Extraordinária. Ele ficou muito desapontado por terem mudado um pouco a história e tirado o anarquismo vs fascismo, que era o foco principal, e trocado pela “liberdade”.

O diretor, James McTeigue tem aqui seu melhor trabalho de direção (pela história do filme, dificilmente faria um trabalho ruim aqui), sendo que tem vasta experiência como assistente de direção, inclusive com os irmãos Wachowski em Matrix.

Com um panorama sombrio, o filme tem muitas referências histórias (como o 5 de novembro) e uma belíssima imagem de Londres à noite em muitas cenas do filme. A atuação de Natalie Portman não deixa nada a desejar, sendo V de Vingança um filme referente em protestos até hoje pelo mundo afora. A máscara que “V” usa durante o filme, faz uma analogia a Guy Fawkes.

Apesar da reformulação da história pelos Wachowski, achei um filme muito bem realizado nos fatores técnicos, e que até hoje gera muita discussão.

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V de Vingança (V for Vendetta). EUA/UK/ALE 2005. Direção de James McTeigue. Roteiro de Andy Wachowski, Lana Wachowski. Com Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Fry, John Hurt.

NC: 8     NP: 8     IMDB: V de Vingança

Por: Ricardo Lubisco

#30 Cadillac Records

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O filme da diretora Darnell Martin têm poucas coisas boas e muitas coisas ruins.

Feito para contar a história da lendária Chess Records, gravadora de Chicago conhecida por ter lançado Muddy Waters, Little Walter, Howlin’ Wolf e Etta James entre outros grandes nomes do Blues e Rock, o filme funciona pelo ritmo biografia que leva, mas peca em contar os fatos assim como ocorreram. Vi muitas reclamações na internet de fatos distorcidos ou omitidos no longa-metragem. E esse detalhe para uma obra que tem como prioridade contar uma história é um fator muito negativo.

O destaque para mim fica por conta das interpretações. Acho que a maioria dos atores estão no mesmo nível, e acima deles, a atuação de Beyoncé como Etta James. Ela me surpreendeu pelo talento que demonstra ao interpretar profundamente a cantora, coisa que eu não esperava.

Para quem gosta de biografias e tem curiosidade por essa época de ouro da música, Cadillac Records fica devendo pelo exercício de um bom cinema, mas vale pelas canções e interpretações ao longo de quase duas horas.

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Cadillac Records. EUA 2008. 109 min. Direção e Roteiro de Darnell Martin. Com Adrien Brody, Beyoncé Knowles, Cedric the Enterteiner, Mos Def, Columbus Short, Eamonn Walker, Jeffrey Wright.

NC: 5     NP: 7     IMDB: Cadillac Records

Por: Ricardo Lubisco

#29 O Primeiro Mentiroso

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Acredito que a melhor qualidade de O Primeiro Mentiroso é ter sido escrito, dirigido e protagonizado por Ricky Gervais.

Este longa, que é o primeiro de Ricky em todos os sentidos (ele só havia feito trabalhos para a televisão) não passa de mediano, mas tem um certo crédito pela história que é interessante, e pela ironia que é usada de forma brilhante algumas vezes. Todas as cenas envolvendo a igreja e Deus estão incluídas nessa ironia. Além disso, as participações de Philip Seymour Hoffman e Jonah Hill como coadjuvantes engrandecem um pouco o elenco, dando mais credibilidade ao filme.

Fora isso, o que eu vi foi um filme regular que por vezes foge um pouco de sua proposta, a de que as pessoas vivem em um mundo onde ninguém sabe o que é a mentira e todos falam a verdade. Foge, porque as pessoas falam o que pensam compulsivamente, ao invés de apenas não mentirem. É um mundo onde além de não mentir, você é obrigado a dizer o que pensa seja bom ou ruim, o que eu achei forçar um pouco a história.

O Primeiro Mentiroso parece uma comédia bobinha, mas por trás das verdades cuspidas a qualquer custo e do romance que sempre acompanha essas comédias, tem uma crítica bem forte sobre o que acreditamos e cremos no mundo em que vivemos.

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O Primeiro Mentirosa (The Invention of Lying). EUA 2009. Direção de Ricky Gervais e Matthew Robinson. Roteiro de Ricky Gervais e Matthew Robinson. Com Ricky Gervais, Jennifer Garner, Jonah Hill, Louis C.K., Rob Lowe, Philip Seymour Hoffman.

NC: 5     NP: 6    IMDB: O Primeiro Mentiroso

Por: Ricardo Lubisco

#23 Mandando Bala

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O filme do diretor Michael Davis é caricato e absurdo. Ele é puro entretenimento, e não se assuste com o enredo enlouquecido, fora de sentido, impossível e todos os substantivos possíveis. É de propósito e funciona, mas não passa de uma alegoria.

Partindo da atuação de Clive Owen e Paul Giamatti, é fácil notar uma homenagem aos filmes de ação. Porém, isso não basta para transformar um roteiro sem sentido e cheio de cenouras em algo produtivo, e Mandando Bala cria em torno de si um status de filme ruim mas divertido. E isso ao meu ponto de vista é algo negativo.

De um modo geral, se possível não assista. Ele é tão bom quando Todo Mundo em Pânico e filmes desse gênero.

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Mandando Bala (Shoot ‘Em Up). Direção e Roteiro de Michael Davis. Com Clive Owen, Paul Giamatti, Monica Bellucci, Stephen McHattie.

NC: 4     NP: 4     IMDB: Mandando Bala

Por: Ricardo Lubisco

#15 Sempre ao Seu Lado

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O que me incomoda nos filmes que tem os animais como protagonistas, principalmente os cachorros, é o excesso de dramatização que se coloca para contar determinada história. É o que acontece com Sempre ao Seu Lado, que faz de cada situação, um eterno momento dramático.

Aí você se pergunta, mas não é uma história sensível e triste? Sim, é. Mas isso não significa dramatização, e sim nobreza. Coisa que falta muito nesse filme do diretor sueco Lasse Hallström (Gilpert Grape, Chocolate). Além da história verdadeira se passar no Japão e não nos Estados Unidos. Se você está filmando uma história real, porque mudar o país e a época dos acontecimentos? Fora a música triste que embala o filme de seu minuto incial até o fim. Ou seja, Sempre ao Seu Lado é um filme feito para fazer as pessoas chorarem, e não para contar a nobre história de Hachi. Uma pena.

PS: Sempre ao Seu Lado é uma refilmagem de Hachikô monogatari, filme japonês de 1987.

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Sempre ao Seu Lado (Hachi: A Dog’s Tale). EUA/UK 2009. 93 min. Direção de Lasse Hallström. Roteiro de Stephen P. Lindsey, Kaneto Shindô (roteirista do filme original). Com Richard Gere, Joan Allen, Cary- Hiroyuki Tagawa.

NC: 5     NP: 4     IMDB: Sempre ao Seu Lado

Por: Ricardo Lubisco

 

#13 Angel- A

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Angel- A é um filme do incansável Luc Besson, conhecido do grande público por ter realizado os excelentes O Profissional (1994) e O Quinto Elemento (1997). Incansável, pois ele é produtor de mais de uma centena de filmes na carreira, além de ter escrito dezenas de roteiros.

Angel- A é um filme simplista com uma filmagem em preto e branco, um acerto por parte do diretor, além de ter apenas dois protagonistas além da cidade de Paris, é claro. A cidade é o personagem principal da história que nela se resume a uma alma perturbada e que quando resolvida consigo mesmo, consegue enxergar a beleza em si escondida, assim como todas as nuances da cidade luz. Uma história de amor simples e muito bem contada.

Os atores se encaixaram muito bem nos papéis e o filme a meu ver é bem divertido e original.

Um detalhe que particularmente gostei muito foi o enquadramento das pontes parisienses. Mais de uma vez o diretor nos brinda com essa imagem que atesta uma ótima direção de fotografia no filme.

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Angel- A. FRA/ESP 2005. 91 min. Direção e Roteiro de Luc Besson. Com Jamel Debbouze, Rie Rasmussen, Gilbert Melki.

NC: 6     NP: IMDB: Angel- A

Por: Ricardo Lubisco

#2 Coisas Belas e Sujas

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Um filme do diretor inglês Stephen Frears, talvez mais conhecido por ter realizado Minha Adorável Lavanderia (1985) e A Rainha (2006).

Com uma temática interessante e muito recorrente na maioria dos países de primeiro mundo, Frears nos apresenta com muita segurança a história de dois imigrantes ilegais e as desventuras que vivem no dia-a-dia de Londres. Um filme mediano, mas virtuoso, tendo em vista que a história não se deixa levar para o fácil caminho de um romance tórrido entre duas pessoas vivendo na mesma situação. É uma história que está em outro patamar. Audrey Tautou em seu primeiro papel inglês fazendo caras e bocas e a ótima atuação de Chiwetel Ejifor. A presença de coadjuvantes carismáticos e presentes na trama enriquece muito o filme.

Coisas Belas e Sujas prende a atenção e é convicente, um trabalho positivo para a carreira de Stephen Frears. Uma fala de Okwe (Chiwetel Ejifor) em determinado momento do filme é marcante e deve ser lembrada:

“Nós somos as pessoas que vocês supostamente não devem ver. Nós limpamos a sua casa, abrimos portas para você, dirigimos táxi, chupamos o seu pau.”

O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2004, reconhecimento do brilhante trabalho de Steven Knight, pois os diálogos do filme são excelentes.

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Coisas Belas e Sujas (Dirty Pretty Things). UK 2002. 97 min. Direção de Stephen Frears. Roteiro de Steven Knight. Com Audrey Tautou, Chiwetel Ejifor, Sergi López, Sophie Okonedo, Benedict Wong.

NC: 6     NP: 7     IMDB: Coisas Belas e Sujas

Por: Ricardo Lubisco

Especial Thomas Vinterberg – Dogma do Amor

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Cinco anos após ter realizado o cultuado Festa de Família, o diretor Thomas Vinterberg surpreendeu muitas pessoas ao anunciar seu mais recente filme, Dogma do Amor. Um título um tanto interesseiro que a distribuidora brasileira colocou no filme, fazendo uma relação com o movimento Dogma criado por Vinterberg e Lars Von Trier, como explicado no post anterior. O título original do filme é It’s All About Love.

Dogma do Amor, antes de tudo, é um filme muito, mas muito subestimado. Eu inclusive cheguei a ler críticas dizendo que era a pior interpretação de Joaquin Phoenix e Claire Danes no cinema, um insulto à dois atores que caíram muito bem no papel que foram escolhidos. O filme tem sim muitos defeitos. É demasiado maçante em alguns momentos ficar completamente perdido na história do filme, um misto de romance, suspense e ficção científica.

Ao mesmo tempo, existem algumas coisas que devem ser esclarecidas. É uma história extremamente criativa. Se Vinterberg não soube usar seu poder de direção e finalizar o roteiro com uma história mais conclusiva e dinâmica, ele incrementou a história com elementos que para mim, foram surpreendentes. Corpos humanos mortos nas ruas e as pessoas passando por cima do corpo sem se importar, apenas seguindo com as suas vidas (isso praticamente acontece nos dias de hoje, metaforicamente ou não), as mudanças climáticas fora de época em todo o mundo, e o mais impressionante, a perda de gravidade.

As atuações de Joaquin Phoenix e Claire Danes não deixam a desejar em nenhum momento, eles praticamente complementam a história com esse romance desconcertado, esse contraste do amor, em um mundo em que o amor é algo em extinção. O personagem representado por Sean Penn, este sim, não existe propósito algum. É desconexo com o restante da história, e se Vinterberg optou por não explorá-lo (como deveria), seria melhor se o tivesse cortado do filme.

Dogma do Amor foi massacrado pela crítica na época do seu lançamento, pois se esperava muito mais do prodigioso Thomas Vinterberg. A minha impressão é que não é para tanto. Eu havia visto Dogma do Amor há uns 6 anos atrás, e a minha impressão era completamente negativa. Revendo ele hoje, o que posso afirmar é que ao mesmo tempo em que o filme apresenta uma série de problemas, ele tem momentos muito relevantes, que o colocam em um patamar mediano perante muitos filmes. Vinterberg pode ter até tremido um pouco a mão na realização deste longa, mas não deixou em momento algum a criatividade e sutileza que guiam um cineasta para o mundo cinematográfico serem perdidas.

Na sequencia do Especial Thomas Vinterberg, o desconhecido mas adorável, Querida Wendy.

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Dogma do Amor (It’s All About Love).  ITA/FRA/CAN/ESP/EUA/JAP/SUE/UK/DIN/ALE/HOL 2003. Direção de Thomas Vinterberg. Com Joaquin Phoenix, Claire Danes, Sean Penn, Douglas Henshall, Alun Armstrong, Margo Martindale, Mark Strong.

NC: 5     NP:6     IMDB: Dogma do Amor

Por: Ricardo Lubisco

Durval Discos

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A diretora Anna Muylaert mostra em seu primeiro longa-metragem um surrealismo pouco aplicado no cinema brasileiro. Este filme de 2002 me surpreendeu pelo fato de não demonstrar em seu título, ou pôster, o rumo que o filme tomaria. Exatamente como um bom vinil, o filme traz um lado B criativo e ousado. Uma grande virtude, poucas vezes vista no cinema nacional. Quanto ao surrealismo e humor negro, acho que a diretora acertou em cheio, não exagerando nas proporções.

Durval Discos agrada nos personagens (principalmente o de Etty Fraser, com grande atuação), no cuidado de sua produção, visual, além da ótima trilha-sonora. Para mim, uma descoberta tardia do cinema nacional. Como a maioria dos filmes brasileiros, têm suas limitações, mas dentro da sua proposta, cumpre muito bem o seu papel. Muito mais do que eu esperava.

O filme foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2002 recebendo 7 Kikitos, incluindo o de Melhor Filme. Merecidamente.

Anna Muylaert recentemente co-escreveu importantes roteiros, como o de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), e Xingu (2012).

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Durval Discos. Brasil 2002. 96 min. Direção de Anna Mylaert. Com Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Marisa Orth e Letícia Sabatella.

NC: 7     NP: 7     IMDB: Durval Discos

Por: Ricardo Lubisco