Sean Penn

A Vida Secreta de Walter Mitty

Ben Stiller in a still from The Secret Life of Walter Mitty

Me lembro quando o trailer de A Vida Secreta de Walter Mitty foi lançado e circularam rumores pela internet dizendo que Ben Stiller poderia ganhar um Oscar pela atuação e direção do filme. Fica nítido hoje, após assistir ao filme, que estes comentários foram muito equivocados. Porém, A Vida Secreta de Walter Mitty me surpreendeu de uma maneira que eu não esperava, após a morna recepção da crítica cinematográfica.

Em nenhum momento do filme Ben Stiller foge do tipo de  interpretação que o caracterizou no cinema, e não realiza um filme sério para provar que pode realizar outros feitos no cinema além das comédias a que estamos acostumados a vê-lo atuar. O ator continua o mesmo, mas a história clama por algo fora do universo convencional do ator, que abraça o personagem e dirige a si mesmo de uma forma muito competente, realizando um filme maduro o suficiente para intercalar bons momentos engraçados e uma seriedade necessária para tirar o filme do comum e banal. As partes divertidas do filme são muito bem encaixadas na história (tirando uma cena extremamente sem sentido e sem graça com referência à O Curioso Caso de Benjamin Button), e é impossível não dar risadas audíveis em alguns momentos aproveitados com sabedoria na história (o piripaque do Chaves que faz o personagem de Ben Stiller “sonhar acordado” é um bom exemplo disso).

O que faz  A Vida Secreta de Walter Mitty ser um filme acima da linha do comum? As belas cenas que nos são apresentadas a partir da metade do filme, assim como o timing certo para a trilha-sonora ser coadjuvante com o que assistimos. É impossível tirar a bela e clássica Space Oddity de David Bowie da cabeça após assistir ao filme, pois ela é tocada em um momento chave da história, assim como os personagens bem apresentados, cada qual com o seu grau de importância na trama. Outro destaque é a participação de Sean Penn, que engrandece a história com um dos melhores momentos do filme.

Tive uma grata surpresa ao terminar a sessão e continuar pensando no filme e no que exatamente me fazia ainda estar preso ao que eu tinha acabado de assistir. E é impossível não ser cativado por uma história que te faz pensar na vida comum que levamos no dia-a-dia, o que era exatamente o propósito do filme. Mostrar que existe algo muito maior que essa rotina que seguimos. E nesse ponto A Vida Secreta de Walter Mitty é muito competente. Para mim Ben Stiller é responsável pelo bom filme, pois não acho que ele tentou forçar uma atuação maior do que a que poderia realizar. É um bom momento de sua carreira, que soma aos seus trabalhos de direção mais um filme bem realizado.

Na minha sessão, a maioria das pessoas permaneceu sentada após o filme, durante os minutos iniciais dos créditos com a atenção presa a tela aguardando aquele algo a mais que poderia vir ou não. Pode não significar grande coisa, mas para mim é a evidência da qualidade do filme.

Curiosidades:

– O filme passou por muitas mãos até chegar a Ben Stiller. De Steven Spielberg à Ron Howard.

– É baseado em um conto de James Thurber.

– Há uma versão cinematográfica da história de 1947. O Homem de 8 Vidas é dirigido por Norman Z. McLeod e protagonizado por Danny Kaye.

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A Vida Secreta de Walter Mitty ( The Secret Life of Walter Mitty). EUA 2013. 114 min. Direção de Ben Stiller. Roteiro de Steve Conrad e James Thurber (História). Com Ben Stiller, Kristen Wiig, Jon Daly, Adam Scott, Sean Penn, Shirley MacLaine.

NC: 7     NP: 7     IMDB: A Vida Secreta de Walter Mitty

Por: Ricardo Lubisco

Especial Thomas Vinterberg – Dogma do Amor

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Cinco anos após ter realizado o cultuado Festa de Família, o diretor Thomas Vinterberg surpreendeu muitas pessoas ao anunciar seu mais recente filme, Dogma do Amor. Um título um tanto interesseiro que a distribuidora brasileira colocou no filme, fazendo uma relação com o movimento Dogma criado por Vinterberg e Lars Von Trier, como explicado no post anterior. O título original do filme é It’s All About Love.

Dogma do Amor, antes de tudo, é um filme muito, mas muito subestimado. Eu inclusive cheguei a ler críticas dizendo que era a pior interpretação de Joaquin Phoenix e Claire Danes no cinema, um insulto à dois atores que caíram muito bem no papel que foram escolhidos. O filme tem sim muitos defeitos. É demasiado maçante em alguns momentos ficar completamente perdido na história do filme, um misto de romance, suspense e ficção científica.

Ao mesmo tempo, existem algumas coisas que devem ser esclarecidas. É uma história extremamente criativa. Se Vinterberg não soube usar seu poder de direção e finalizar o roteiro com uma história mais conclusiva e dinâmica, ele incrementou a história com elementos que para mim, foram surpreendentes. Corpos humanos mortos nas ruas e as pessoas passando por cima do corpo sem se importar, apenas seguindo com as suas vidas (isso praticamente acontece nos dias de hoje, metaforicamente ou não), as mudanças climáticas fora de época em todo o mundo, e o mais impressionante, a perda de gravidade.

As atuações de Joaquin Phoenix e Claire Danes não deixam a desejar em nenhum momento, eles praticamente complementam a história com esse romance desconcertado, esse contraste do amor, em um mundo em que o amor é algo em extinção. O personagem representado por Sean Penn, este sim, não existe propósito algum. É desconexo com o restante da história, e se Vinterberg optou por não explorá-lo (como deveria), seria melhor se o tivesse cortado do filme.

Dogma do Amor foi massacrado pela crítica na época do seu lançamento, pois se esperava muito mais do prodigioso Thomas Vinterberg. A minha impressão é que não é para tanto. Eu havia visto Dogma do Amor há uns 6 anos atrás, e a minha impressão era completamente negativa. Revendo ele hoje, o que posso afirmar é que ao mesmo tempo em que o filme apresenta uma série de problemas, ele tem momentos muito relevantes, que o colocam em um patamar mediano perante muitos filmes. Vinterberg pode ter até tremido um pouco a mão na realização deste longa, mas não deixou em momento algum a criatividade e sutileza que guiam um cineasta para o mundo cinematográfico serem perdidas.

Na sequencia do Especial Thomas Vinterberg, o desconhecido mas adorável, Querida Wendy.

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Dogma do Amor (It’s All About Love).  ITA/FRA/CAN/ESP/EUA/JAP/SUE/UK/DIN/ALE/HOL 2003. Direção de Thomas Vinterberg. Com Joaquin Phoenix, Claire Danes, Sean Penn, Douglas Henshall, Alun Armstrong, Margo Martindale, Mark Strong.

NC: 5     NP:6     IMDB: Dogma do Amor

Por: Ricardo Lubisco